Espaços vazios na alma. Espaços tristes, sentindo a falta de vozes doces, de açoites e olhares. Ou até mesmo gritos de desespero ou sorte.
Não há nada no mundo, nem nunca haverá... Tão breve é o profundo, que dia não há.
Eis que me pego olhando o céu cinza da cidade sem horizontes. Fachadas, janelas, antenas, luzes quadriculadas. Se paro os meus olhos no nada, eis que difusamente percebo umas que se apagam e outras que se acendem, numa dança, silenciosa, dança de solidão. Há milhares de seres prontos para acionar o botão. Cada botão, botões ilhados, imersos nos concretos de paredes que estancam toda e qualquer visão. Compartimentos de seres sós, tão perto uns dos outros e tão distantes do coração de todos.
Seres que vivem na companhia de outros. Uns acionando o botão do som, e ao mesmo tempo, outros o da televisão. Interesses diversos, separados seres. Juntos apenas para fingir para si próprios que são um só, quando quase nunca se encontram em 50 e poucos metros quadrados. Não, nada no mundo, nem sonho não há...
Há breve azuis, nuvens ainda passeiam, quase sempre imaginadas. Chuva ainda cai, a água nunca é limpa, e o silêncio não há... Espaços cheios de gente, de carros, de outdoors e qualquer outro tipo de anúncio, vendendo corpos para vender cervejas, aguçando nossos desejos com três lindos corpos nus de garotos com cara de safados, para vender a marca da roupa que 15 milhões de brasileiros deixam de vestir, não por falta de vontade.
Espaços entupidos de não espaços. Faltam brancos, pretos, coloridos, vazios, vácuos, ar livre, saídas. Só se enxergam frestas, produtos, utilidades inúteis, braços malhados, roupas da moda e toda sorte de instrumentos subliminares, que fingem não chamar a atenção.
De tanta overdose de eus sem alma, assim agimos, assim queremos e norteamos nossas vidas...
Para que reticências? Para acabar num nada devagar... No nada que se dilui em todas as direções, na tentativa de preencher os espaços vazios da alma.
Cores e corações e sopetões e rapagões e insinuações e me perco.
Sapos e rãs no lago, na escuridão branca, da lua no céu preto de estrelas, cor de prata.
Pego e me revelo e te espero e nunca chego, não estou aqui.
Saio e procuro cada, e faço parte da imensa multidão.
Caio e me levanto e vão me levando e se chego perto, não quero.
Pago e não compro amor, e só sinto dor e pego na mão, de ninguém.
Faço e desfaço sexo, e acabo perplexo e de nunca ser nem estar, aqui.
Preso o presente e prego e se me separo, sei lá se quero, na dúvida, não sou.
Torneira aberta, e não fecho.
Espada em riste e tristeza.
Falsa combinação.
Estúpido momento de certeza.
Claro cúmulo de saudade.
Imundo muro com aquelas inscrições que só hoje eu consegui decifrar e é por elas que não consigo dormir esta noite. Acordei afogado em mágoas vãs, esperando o outro para um afago, um olhar doce, uma chama, um calor, uma luz dos olhos. Sabe quando os olhos brilham? Pouco brilho nessa vida, hein?
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